Aos 90 anos, Zeneida Lima, última pajé nativa do Marajó, dissemina saberes ancestrais da Amazônia
Belém (PA) - Conhecida como a última de Soure (PA), localizado no Arquipélago do Marajó, a ecologista Zeneida Lima completou 90 anos no dia 21 de julho deste ano. Um dos principais legados da pajé nativa é a fundação da Instituição Caruanas do Marajó Cultura e Ecologia (ICMCE), uma unidade de ensino na qual cerca 180 crianças em situação de vulnerabilidade social aprendem sobre a preservação ambiental e a cultura marajoara. Além disso, com seus conhecimentos e tradições ancestrais, a pajé pratica a cura xamânica há muitos anos, seguindo os ensinamentos dos indígenas da etnia Sacaca.
Mesmo vivendo cercada pela exuberância da biodiversidade amazônica e adquirindo conhecimentos sobre preservação desde cedo, a pajé nativa enfrentou uma infância desafiadora, assim como diversas crianças na Ilha do Marajó. Por isso, ela nunca abandonou o sonho de mudar a realidade, pois se identificava com as dificuldades vividas no passado.
Em entrevista à CENARIUM, Zeneida Lima afirmou que um dos seus principais objetivos de vida é ajudar as pessoas. "Eu estou sempre em busca de ajudar as pessoas, o próximo, o meu semelhante, principalmente as crianças, porque elas são o futuro".
Ela também mencionou a fundação de uma escola, localizada no meio da floresta amazônica. Atualmente, a Instituição Caruanas funciona em parceria com a Prefeitura de Soure (PA) e recebe crianças em condição de risco social, que têm a oportunidade de estudar do jardim de infância até a quinta série do ensino fundamental.
"Sou imensamente realizada por ter a oportunidade de fazer isso através da pajelança e do Instituto Caruana do Marajó. Também me sinto realizada e feliz ao trabalhar pela preservação da natureza e da pajelança cabocla, essa cultura tão linda, genuína, antiga, que herdamos dos nossos indígenas. E é isso que me move, que me faz sentir renovada e que pretendo fazer todos os dias enquanto tiver força, não importa a idade", declarou.
A ecologista diz que a população do Marajó "precisa de mais cuidado, carinho, saúde, educação, principalmente as crianças, além de mais oportunidades de emprego e renda". Ela reforça que a mudança só é possível com o envolvimento de toda a sociedade e deixa uma mensagem para a juventude.
"Gostaria que o jovem amasse a natureza, como eu amo, a própria vida, e que, entendam, reconheçam, a importância do meio ambiente. Nós devemos aprender a conviver com o meio ambiente sem destruí-lo, fazendo com que ele se perpetue para as futuras gerações", frisou.
HERANÇA INDÍGENA
A pajelança cabocla é uma prática cultural originária dos povos nativos que viviam na região do Marajó. De acordo com Zeneida, o pajeísmo acontece quando o ser humano se conecta às energias da natureza conhecidas como "Encantados" ou "Caruanas", que são as forças que habitam as águas.
Fabyo Cruz - Da Cenarium
Crédito: Marx Vasconcelos