Conheça o projeto na Ilha do Marajó que tem apoio do Criança Esperança

Conheça o projeto na Ilha do Marajó que tem apoio do Criança Esperança

Na Ilha do Marajó, o trabalho do Instituto Caruanos do Marajó é mais um projeto que tem o apoio do Criança Esperança.

Antônio come pão e toma café com ansiedade. Quer mostrar o que mais gosta de fazer ultimamente, é no cantinho do quarto que o menino de 11 anos guarda o seu xodó.

Antônio: Eu cuido com muito carinho dele.
Jornal Nacional: Deixa sempre guardado ali?
Antônio: Sempre guardadinho.
Jornal Nacional: Você cuida dele como se fosse o quê?
Antônio: Meu filho.

Para esse garoto, saxofone é diversão e lição. Antônio é uma das 300 crianças e adolescentes que estudam em um recanto verde, cercado pela floresta nativa. Uma fazenda no município deSoure no Pará. Além das aulas regulares, é nesse ambiente que os jovens também têm a oportunidade de conviverem com a arte.

A determinação do garoto, que sofre de asma, surpreendeu a todos.

Um gigante assim, sabe. Que tá buscando mesmo um futuro brilhante na vida dele que o que eu espero daqui para frente, diz a dona de casa Cláudia Santos Alcântra.

Com o apoio do Criança Esperança, o Instituto Caruanas do Marajó promove oficinas de música e dança voltadas para a cultura regional. Graças ao projeto, mais de 60 meninos e meninas passam o dia todo na escola.  

A relação da comunidade com a cultura local, com as raízes, vem transformando a vida desses jovens na Ilha do Marajó. E sabe qual é o resultado: eles melhoraram em tudo que realmente importa. A autoestima, o rendimento escolar e a convivência com a família e com os amigos.

Eles tão levando esse bom exemplo da escola pra dentro de casa. E é isso que importa pra gente, conta uma funcionária do Instituto.

Bastidores

Por Fabiano Villela

Quando se fala em Amazônia, a gente logo imagina o desafio de vencer as longas distâncias.
É sempre assim quando deixamos a capital, Belém, pra ir atrás de histórias no interior do Pará.
Muitas vezes, em cidades isoladas no meio da floresta, às margens dos rios que cortam a imensidão verde.

O Criança Esperança nos levou a um desses municípios. Visitamos Soure, na Ilha do Marajó. É o maior arquipélago marinho-fluvial do mundo, onde só é possível chegar de avião ou de barco - nesse caso, por exemplo, são até 20 horas de viagem pra se alcançar a cidade mais isolada da ilha.

A distância é apenas um dos fatores que impuseram o atraso à região, uma das mais pobres do Brasil. Dos cinquenta municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado pela ONU no mês passado, oito estão no Marajó. Só por aí já se tem uma ideia do drama pelo qual vivem cerca de 500 mil marajoaras.

A pobreza marca um lugar que guarda tanta coisa bonita. Um povo muito acolhedor e uma natureza exuberante. Soure é um lugar belíssimo. Tem praias que surgiram da mistura dos rios amazônicos com o mar do Atlântico.

Até chegar à cidade, foram quatro horas de balsa saindo de Belém. Depois, mais vinte minutos de carro até a fazenda onde fica o Instituto Caruanas, que realiza um projeto social muito bacana.
O Instituto oferece aulas de ensino fundamental com professores do estado, e aulas de música e dança que têm o apoio do Criança Esperança. Os jovens atendidos vivem uma realidade muito dura. A maioria foi vítima de abandono dos pais, abuso sexual, ou se envolveu com drogas - seja como traficante ou usuário. Crianças tímidas e com baixa auto estima. Mas quando chegamos ao Instituto, vimos o sorriso e a alegria dos meninos e meninas que participam das oficinas. São jovens carentes de tudo, e principalmente de afeto. E à medida que eu me aproximava deles, percebia o quanto necessitam de carinho. Quando eu brincava com eles, era comum receber um beijo e um abraço. E no fundo, era eu quem saía recompensado dali, com tanta manifestação carinhosa.

É incrível como a atividade cultural mexe com aqueles jovens. As turmas de música e dança vivem lotadas. Todos adoram participar. E o mais legal é que, além de aprenderem outros ritmos musicais, o contato primordial é com a cultura paraense, marajoara. As crianças aprendem a tocar e a dançar o carimbó,  o ritmo genuíno do Pará, que carrega uma melodia e uma dança absolutamente empolgantes.

E é nessa relação entre os moradores e a sua tradição, que os jovens vão aos poucos reconquistando a alegria, a motivação. Exemplo disso é o Antônio, de 11 anos, chamado de ''Toninho'' por todos. Um menino tímido, de fala curta e baixa por causa da asma. Há três anos frequenta a oficina de música. Começou com a flauta doce, passou pra percussão, e agora vive a experiência de tocar saxofone. O instrumento é quase do tamanho dele!  E o garoto manda muito bem. Recebe vários elogios do instrutor Igor, carioca que há quatro anos vive em Soure por causa do projeto.

Esperando uma resposta metafórica de Toninho, perguntei de onde ele tirava tanto fôlego pra tocar saxofone. Ele pensou um pouco e disse: - ''da barriga!''. Fui maravilhosamente surpreendido por sua ingenuidade, que me rendeu essa resposta sensacional.
Não importa se, um dia, Soure nos dará um grande artista . A missão mais valiosa - de devolver a alegria e oferecer uma perspectiva àquelas crianças - já está sendo cumprida.

 

FONTE: Jornal Nacional